quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Quem quer ser professor?

Quem quer ser professor?
João Ruivo - Ensino Magazine


Retornar a abordagem do problema da formação de professores neste primeiro número do ano 2018 é um desafio que se quer constante, já que o tema, apaixonante e complexo, se mantém indiscutivelmente actual, sobretudo quando se sabe da baixa procura, por parte dos estudantes, deste tipo de cursos e, também, porque os docentes em exercício são, diariamente, confrontados com a necessidade de decantar modelos de formação que sirvam expectativas múltiplas e diversificadas.

Entre essas múltiplas expectativas poderíamos enumerar as dos professores que querem ver melhorada a sua eficácia profissional; as dos alunos que desejam ver correspondidas as suas necessidades de aprendizagem; as das escolas que procuram uma cultura profissional e um clima organizacional de trabalho ajustado ao seu desempenho sistémico e social; as dos pais que manifestam a preocupação com os custos da educação e com a qualificação escolar dos seus filhos; as do sistema educativo que prescreve funções cada vez mais diversificadas aos docentes; enfim, as da Administração Escolar que requer dos professores e das escolas mais e mais exigências quanto à qualidade do ensino e aos produtos de aprendizagem dos alunos.

Poderíamos então aceitar uma opinião, cremos que generalizada, que abrir, uma vez mais, o debate sobre a formação de professores não só é tarefa urgente, quanto irrecusável, dada a reconhecida necessidade de: 1 - Chamar, novamente, os melhores alunos aos cursos e escolas de formação de educadores e de professores; 2 - Garantir uma melhoria na qualidade do ensino enquanto chave mestra para a optimização do funcionamento do sistema educativo; 3 - Anular a perversão de fixar apenas critérios administrativos para a avaliação permanente de docentes; 4 - Provocar nas instituições formadoras as mudança e as inovações necessárias, nesta época de profunda evolução científica, técnica, económica, cultural e social que caracterizam a sociedade global, que conflui numa grande mobilidade das pessoas, dos bens e do conhecimento.

Devemos admitir que, nos tempos mais recentes, esta temática tem merecido um escasso tratamento, tanto através da reflexão de professores e investigadores, quer quanto à produção, em termos quantitativos e qualitativos, da investigação educacional. Mesmo assim, atrevemo-nos a entender que o assunto não se encontra esgotado, tanto mais que não são poucos os estudos que reflectem a (inacreditável) não transposição para a formação docente dos resultados das pesquisas conhecidas e disponíveis na literatura especializada.

Acresce, ainda, que, não poucas vezes, formadores e formandos se encontram confrontados com o desencanto: os primeiros, no que respeita à diferença entre o seu empenhamento e os resultados das suas práticas formativas; os segundos, quanto à preparação para um desempenho que garanta a sua sobrevivência e desenvolvimento pessoal e profissional.

A formação de professores converte-se, nos dias que correm, num campo de análise de crescente preocupação e interesse para professores e formadores; bem como para as instituições responsáveis pela formação inicial e permanente, quando questionadas pelas perplexidades que emergem da desarticulação entre as orientações conceptuais e os modelos de formação, por um lado, e por outro, pela incoerência revelada, na prática, por algumas dessas estratégias formativas.

Considerar a actividade docente como um contributo para a praxis de uma profissão dinâmica e em desenvolvimento é, igualmente, admitir que os professores são parte integrante, activa e fundamental, da mudança educativa, das reformas curriculares, da eficácia das escolas, do sucesso do sistema educativo, e da formação de cidadãos capazes de enfrentar os desafios do futuro.

Entendemos, pois, se outras razões mais não houvesse, que reflectir sobre os fundamentos das teorias, modelos e estratégias necessárias à compreensão e melhoria da formação de professores, não dever ser entendida como tarefa meramente académica, mas antes como um processo necessário à busca de respostas perante as perplexidades que, quantas vezes, se deparam no dia--a-dia da actividade dos formadores.

Hoje, cabe aos professores e às escolas um papel insubstituível quanto ao delinear das suas necessidades e estratégias de formação. Uma formação que se deseja aproximada dos espaços vivenciados pelos professores e pelos alunos. Uma formação que transforme as escolas em comunidades educativas, de formação permanente e inclusiva. Uma formação que se quer ver reflectida na mudança das atitudes e das mentalidades que enquadram as práticas escolares. Uma formação, enfim, que deixará de fora todos aqueles que lhe quiserem ser alheios.

Porque no ensino já não há mais espaço para os indiferentes.
João Ruivo - Ensino Magazine

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