quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ninguém aguenta isto por muito mais tempo…


O 1.º Ciclo, que em tempos mereceu – fruto da sua especificidade e acentuado desgaste físico e psíquico – algum respeito e estima, está hoje entregue a um miserável processo de degradação.

A ação de consecutivas equipas ministeriais, muitas vezes animada por preconceitos atávicos, cedeu a um pífio populismo movido pela inveja socioprofissional. À tutela juntaram-se as principais forças sindicais onde muita da inveja profissional se acoita sob a impunidade dos que cedem a fretes e favores usualmente inconfessáveis. Muitas alterações, invariavelmente em prejuízo das crianças e dos profissionais do setor, foram consentidas e – em alguns casos – patrocinadas pelos sindicatos que agora, em razão da severidade das consequências, se apressam, com cândida inocência,a apontar males e a denunciar “injustiças várias”. Como se este cocktail já não fosse danoso o suficiente, deve lembrar-se as alterações legislativas ao regime de gestão das escolas e os posteriores processos de megafusões. Os níveis de democraticidade reduziram-se a mínimos vincadamente simbólicos. Na sanha de tudo uniformizar, viabilizaram-se – na base de um cavernoso discurso que defendeu os méritos de uma suposta “autonomia” – contraproducentes mudanças, que também serviram para elevar ao limite do insano a carga burocrática que passou a impender sobre os Professores deste nível de ensino.

Na verdade, o 1.º Ciclo foi literalmente engolido, alvo de graves atentados pedagógicos e educativos, que as famílias nem sempre valoraram na sua justa proporção. Sobrepôs-se uma lógica economicista e, o mais grave, ocupacional da Escola. Tudo à custa do sacrifício dos suspeitos do costume: os docentes do 1.º Ciclo.

Revogado regime especial de aposentação, aumentou-se – com despudorado cinismo – a carga letiva. Pelo mesmo salário, trabalho desigual ou a indisfarçável (e trágica!) distinção entre “professores de 1ª” e “professores de 2ª”. Poucos colegas (de outros níveis de ensino) ergueram a sua voz e ação para se solidarizarem com os seus pares do Pré-escolar e do 1.º Ciclo. Na verdade, a solidariedade profissional na classe docente é uma treta.

Com horários humanamente insuportáveis, vitimados pelo preconceito que passou a mover a maioria dos Diretores que tudo decidem e impõem ao 1º Ciclo, entretanto fragilizado de morte, não se vislumbram correções ou alterações que devolvam a estes profissionais, a quem o país tanto deve, o horizonte de esperança de que necessitam para suportarem tão doloroso calvário. Notam-se por aí algumas iniciativas sindicais que mal disfarçam o lavar de mãos a que alguns agora se prestam não vá alguém perguntar ”quem, afinal, permitiu que se chegasse a este ponto?”

Os relatos mais recentes que chegaram a esta página, por meio de colegas compreensivelmente indignadas, dão conta de reuniões promovidas ou ordenadas por Diretores quando confrontados com o mais leve indício de queixa/amuo/capricho deste ou daquele encarregado de educação que vise um docente do 1º Ciclo. As portas da Direção, nesses casos, abrem-se. Ficam franqueadas. É só gentileza e disponibilidade. O mesmo, estranhamente, não sucede quando há queixinhas dos pais de alunos do 2º, 3º Ciclo ou Secundário. Aí, a fortaleza fecha-se, cerra fileiras e protege os que julga ou tem por mais fortes ou… simplesmente “os seus”.

Se pertence a um agrupamento em que um(a) Diretor(a) coloca num mesmo plano e ao mesmo nível um Professor do 1.º Ciclo e um encarregado de educação, forçando o primeiro a explicar-se, lamentamos informá-lo que está a assar em lume brando e que, à primeira oportunidade, servirá – com populismo qb – de exemplo para a maralha. Está na moda. Até porque há quem entenda poder ser forte com os que dizem ser os fracos (do sistema).

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