segunda-feira, 20 de maio de 2013

“O jardim de infância não é para aprender a ler nem a escrever”


“Devia ser proibido ensinar a ler e a escrever no jardim de infância”. A ideia foi defendida por Eduardo Sá no encontro “Vale a Pena ir à Pré”, uma iniciativa conjunta da Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) e da revista Pais&filhos destinada a debater e esclarecer o valor do ensino pré-escolar na educação de uma criança.

Eduardo Sá, que começou por manifestar o seu desacordo pela “distinção que é feita entre educação infantil e ensino obrigatório”, considerou depois que ainda existem alguns “erros” nos moldes em que, por vezes, o ensino pré-escolar é praticado.

“O jardim de infância não é para aprender a ler nem a escrever”, criticou, lembrando que “as crianças antes de aprender a ler, aprendem a interpretar “ e que “não é por tornarmos uma criança um macaquinho de imitação que ela vai ser mais inteligente”. Eduardo Sá, psicólogo clínico com grande parte da sua carreira dedicada à psicologia infantil, defendeu que o jardim de infância deve antes ser um local onde a criança exerça atividade física pois, justificou, “as crianças aprendem a pensar com o corpo” e se souberem mexer o corpo “mais expressivas serão em termos verbais”.

Além disso, prosseguiu, o jardim de infância deve ser um local para a criança receber educação musical (“a música torna-os mais fluentes na língua materna”) e educação visual (“quanto mais educação visual tiverem, menos dificuldades têm de ortografia”). Por outro lado, disse ainda, as crianças precisam de “contar e ouvir histórias” no jardim de infância, sublinhando que “as histórias ajudam a pensar” e a “linguagem simbólica a arrumar os pensamentos”.

Mas, mais que tudo isso, o jardim de infância deve ser um espaço para a criança brincar. A brincadeira é um “património da humanidade” que a ajuda “a pensar em tempo real e a resolver dificuldades”, salientou o psicólogo, sublinhando que “brincar não pode ser uma atividade de fim de semana” nem os espaços para brincar podem estar confinados a pátios fechados. “É obrigatório que as crianças brinquem na rua”, defendeu.

Em suma, concluiu, “o jardim de infância faz bem à saúde” e é urgente que seja “acarinhado”. Sob pena de virmos a pagar no futuro “custos exorbitantes” por tal esquecimento.

2 comentários:

  1. Na Educação Pré-Escolar não há programa, mas sim Orientações Curriculares e especificamente um domínio que se chama, domínio da linguagem oral e abordagem à escrita. Eu também acho que deve ser proibido ensinar a ler e a escrever no JI, no entanto a abordagem à escrita tem de ser trabalhada, Não se trata de uma introdução formal e clássica à leitura e escrita, mas de facilitar a emergência da linguagem escrita numa perspetiva de literacia, no sentido de descodificar a "leitura" da realidade, das "imagens" e de saber para que serve a escrita, mesmo sem saber ler formalmente. O educador cria um ambiente facilitador e de contacto com o código escrito, neste sentido as tentativas de escrita mesmo que não conseguidas são valorizadas. Todas as crianças começam desde cedo a manifestar o desejo de escrever, o seu nome, palavras que vêem nos rótulos, livros...palavras com significado e que devem ser valorizadas. Não podemos esquecer ainda o desenho como forma de escrita que permite representar uma palavra, acontecimentos, histórias...No JI as crianças têm livros, jornais, agendas, jogos, computadores (poucos...) que permitem o contacto com diversos tipos de texto escrito e que levam a criança a compreender a necessidade e as funções da escrita mas o educador é e será sempre o agente motivador que leva a criança a ir mais além.

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  2. A capacidade de "leitura" é condição indispensável do sentido crítico. É dar a cana para que o próprio aprenda a pescar, a formular o seu próprio juízo e a procurar as suas próprias respostas. Alguma altura será demasiado cedo para a fomentar?

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