segunda-feira, 17 de maio de 2010

Moralidade ou Puritanismo?

Uma professora pousou nua para a Playboy. O "diácono" que dirige a escola fez queixa e a vereadora julgou e condenou, com uma rapidez pouco habitual, a docente. Está reposta a moralidade.
Bruna Real dava aulas de música e era responsável pelas actividades extra-curriculares na escola da Torre de Dona Chama, em Mirandela. E é, por sinal, senhora bem apessoada. Decidiu, usando da sua liberdade e dos seus tempos livres, pousar para a revista Playboy. Nua, como é costume na revista.
Por mera curiosidade ou por interesse pragmático (dependendo das idades), os alunos começaram a tirar fotocópias das sugestivas imagens da stôra. O homem que nunca pecou a pensar numa professora que atire a primeira pedra ou lamente a sua falta de sorte.
Os pais dos petizes, que são muito homens e não terão desgostado de tão tentadores atributos, ficaram chocados ao saber esta mulher do Demo tratava das actividades extra-curriculares dos miúdos. Não sei se por inveja, se por acharem que o pecado é doce mas deve estar longe dos olhos da família, comoveram-se (é o que diz a Câmara Municipal) e foi num instante até o assunto ser tratado pelas autoridades competentes.
Felizmente para a família transmontana, Bruna trabalha (ilegalmente) a recibos verdes, o que quer dizer que é apenas mais ou menos cidadã. O que ela faz da sua vida diz respeito a todos e, por isso, o "diácono" José Pires Garcia, director do Agrupamento de Escolas da Torre de Dona Chama, deixou tudo em pratos limpos: "aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de professora e de educadora".
Eu julgava que ser mau professor, ser incompetente, tratar mal os alunos, faltar às aulas - Bruna Real recusou outra sessão para a Playboy para não faltar às suas obrigações profissionais -, não ter preparação pedagógica ou não estar habilitado para a docência seria incompatível com a função de professora. Mas, ao que parece, o que se exige às professoras de Mirandela é que se mantenham vestidas mesmo quando estão longe da escola.
Para acalmar a excitação dos pais e mães de Mirandela (vizinhos das saudosas mães de Bragança), a vereadora com o pelouro da educação e bons costumes retirou a senhora da escola e recambiou-a para o arquivo - talvez por causa da sua ligação à actividade editorial -, garantindo o que o seu contrato, que acaba em Julho, não será renovado. Está então reposta a moralidade. Sem a maçada de qualquer processo disciplinar, a vereadora tratou do julgamento, da sentença e da pena a aplicar.
Como muito bem recordou o presidente da Fenprof, não faltam professores "criminosos que estão indiciados por crimes de origem sexual e andam há não sei quantos anos a ser julgados e os processos nunca mais acabam". Não mereceram nunca tão lesta medida cautelar. E esses sim, são motivo de alarme social. Já Bruna Real, que não cometeu qualquer crime e não fez nada que limite a sua capacidade de dar aulas, foi rapidamente arquivada. Porque, já se sabe, a hipocrisia vive bem com os pecados escondidos, mas não aguenta a simples imagem de uma mulher nua. Podemos lá suportar a ideia de que uma professora tem corpo.
Já se sabe que para os machos ibéricos e suas submissas esposas há dois tipos de mulheres: as sérias, com quem se casa e se tem filhos, que são professoras e exemplo para os nossos petizes, e as que sendo excelentes para capas de revistas, despedidas de solteiro ou facadas no matrimónio, não servem para andar por aí à luz do dia, nas salas de aula dos nossos rebentos.
Felizmente, apesar de tudo, algumas coisas vão mudando. Pelo menos uma mãe reagiu normalmente. "Estranhei o meu filho ter-me pedido dinheiro para comprar uma revista onde vinha a professora. Quando percebi qual era a revista deu-me vontade de rir". E diz que não consegue criticar a docente: "cada um é livre de fazer o que lhe apetece" . A Confederação Nacional de Pais defende que não deve haver qualquer pena e os vários sindicatos dos professores defedem o direito de Bruna Real à sua vida fora da escola. Menos mal. Talvez com o tempo cheguemos mesmo ao século XXI.

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